sábado, 17 de agosto de 2013

Mariela Castro



“Não podemos aceitar migalhas em direitos sexuais e reprodutivos.”

Mariela Castro


NOTA:
O blog "Maria da Penha neles" traz uma entrevista interessante com a sexóloga Mariela Castro (filha do ex-presidente cubano, Raul Castro). Leia aqui

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A questão do aborto



O Sr. Drauzio Varella realmente é de outro mundo. Porque deste não pode ser. Um homem mais esclarecido sobre a questão do direito ao corpo do que tantas e tantas mulheres que continuam a permitir que seus corpos sejam controlados por outras pessoas? Não pode ser. Não pode, mas é.

Leiamos todos as palavras dele, quem sabe assim a lucidez e a compaixão toquem nossos corações, quase sempre de pedra.

"Desde que a pessoa tenha dinheiro para pagar, o aborto é permitido no Brasil. Se a mulher for pobre, porém, precisa provar que foi estuprada ou estar à beira da morte para ter acesso a ele. Como consequência, milhões de adolescentes e mães de família que engravidaram sem querer recorrem ao abortamento clandestino, anualmente.

A técnica desses abortamentos geralmente se baseia no princípio da infecção: a curiosa introduz uma sonda de plástico ou agulha de tricô através do orifício existente no colo do útero e fura a bolsa de líquido na qual se acha imerso o embrião. Pelo orifício, as bactérias da vagina invadem rapidamente o embrião desprotegido. A infecção faz o útero contrair e eliminar seu conteúdo.

O procedimento é doloroso e sujeito a complicações sérias, porque nem sempre o útero consegue livrar-se de todos os tecidos embrionários. As membranas que revestem a bolsa líquida são especialmente difíceis de eliminar. Sua persistência na cavidade uterina serve de caldo de cultura para as bactérias que subiram pela vagina, provoca hemorragia, febre e toxemia.

A natureza clandestina do procedimento dificulta a procura por socorro médico, logo que a febre se instala. Nessa situação, a insegurança da paciente em relação à atitude da família, o medo das perguntas no hospital, dos comentários da vizinhança e a própria ignorância a respeito da gravidade do quadro colaboram para que o tratamento não seja instituído com a urgência que o caso requer.

A septicemia resultante da presença de restos infectados na cavidade uterina é causa de morte frequente entre as mulheres brasileiras em idade fértil. Para ter ideia, embora os números sejam difíceis de estimar, se contarmos apenas os casos de adolescentes atendidas pelo SUS para tratamento das complicações de abortamentos no período de 1993 a 1998, o número ultrapassou 50 mil. Entre elas, 3.000 meninas de dez a quatorze anos.

Embora cada um de nós tenha posição pessoal a respeito do aborto, é possível caracterizar três linhas mestras do pensamento coletivo em relação ao tema.

Há os que são contra a interrupção da gravidez em qualquer fase, porque imaginam que a alma se instale no momento em que o espermatozoide penetrou no óvulo. Segundo eles, a partir desse estágio microscópico, o produto conceptual deve ser sagrado. Interromper seu desenvolvimento aos dez dias da concepção constituiria crime tão grave quanto tirar a vida de alguém aos 30 anos depois do nascimento. Para os que pensam assim, a mulher grávida é responsável pelo estado em que se encontra e deve arcar com as consequências de trazer o filho ao mundo, não importa em que circunstâncias.

No segundo grupo, predomina o raciocínio biológico segundo o qual o feto, até a 12ª semana de gestação, é portador de um sistema nervoso tão primitivo que não existe possibilidade de apresentar o mínimo resquício de atividade mental ou consciência. Para eles, abortamentos praticados até os três meses de gravidez deveriam ser autorizados, pela mesma razão que as leis permitem a retirada do coração de um doador acidentado cujo cérebro se tornou incapaz de recuperar a consciência.

Finalmente, o terceiro grupo atribui à fragilidade da condição humana e à habilidade da natureza em esconder das mulheres o momento da ovulação, a necessidade de adotar uma atitude pragmática: se os abortamentos acontecerão de qualquer maneira, proibidos ou não, melhor que sejam realizados por médicos, bem no início da gravidez.

Conciliar posições díspares como essas é tarefa impossível. A simples menção do assunto provoca reações tão emocionais quanto imobilizantes. Então, alheios à tragédia das mulheres que morrem no campo e nas periferias das cidades brasileiras, optamos por deixar tudo como está. E não se fala mais no assunto.

A questão do aborto está mal posta. Não é verdade que alguns sejam a favor e outros contrários a ele. Todos são contra esse tipo de solução, principalmente os milhões de mulheres que se submetem a ela anualmente por não enxergarem alternativa. É lógico que o ideal seria instruí-las para jamais engravidarem sem desejá-lo, mas a natureza humana é mais complexa: até médicas ginecologistas ficam grávidas sem querer.

Não há princípios morais ou filosóficos que justifiquem o sofrimento e morte de tantas meninas e mães de famílias de baixa renda no Brasil. É fácil proibir o abortamento, enquanto esperamos o consenso de todos os brasileiros a respeito do instante em que a alma se instala num agrupamento de células embrionárias, quando quem está morrendo são as filhas dos outros. Os legisladores precisam abandonar a imobilidade e encarar o aborto como um problema grave de saúde pública, que exige solução urgente.

Autor: Drauzio Varella
Fonte: Blog oficial doDr. Drauzio Varella

domingo, 11 de agosto de 2013

Desconstrução do mito da maternidade perfeita - parte I (O corpo após o parto).







Uma das bases da maternidade consciente é a desconstrução dos mitos relacionados a ela. O mito do instinto materno como sendo inato e universal, da gravidez sem incômodos, do parto sem dor, do amor compulsório e imediato pelo bebê... São tantos os mitos que o melhor mesmo é irmos por parte. Não para desmotivar, chocar ou preocupar quem deseja ser mãe, mas sim para informar e oferecer fatos e imagens mais próximas das várias realidades enfrentadas por mulheres que optam por se tornarem mães, garantindo assim que um número cada vez maior de mulheres tenha acesso a informações pertinentes sobre os vários aspectos da maternidade a fim de poderem tomar uma decisão consciente sobre uma vida com ou sem filhos.

Um desses mitos é o de que o corpo não passa por uma transformação drástica durante a gravidez; de que o que muda mesmo são apenas os quilos a mais e que depois é só fazer dieta e emagrecer. E, hoje em dia, mas do que nunca, as mulheres sofrem a pressão de apresentarem corpos esbeltos e perfeitos pouco depois de darem à luz. Mas a verdade é que as profundas transformações que uma gravidez pode impor ao corpo feminino (cicatrizes, estrias, flacidez, envelhecimento precoce, dismorfia...) nem sempre são reversíveis. E pouco se fala nelas, porque elas raramente são discutidas e compartilhadas pelas mulheres. Quase sempre por vergonha. 

Pensando nisso, a fotógrafa americana Jade Beall, se propôs a colaborar para o processo de redefinição do conceito do corpo da mulher bonita.

Segue a reportagem da BBC sobre o projeto dela: 
Um dia ela entrou em seu estúdio com seu bebê de cinco semanas, tirou a roupa, e fez uma série de fotos. Era um corpo que ela não conhecia. Era um formato de corpo que ela nunca tinha tido antes da gravidez. E ela não gostou muito do que viu. Mas Beall decidiu publicar as fotos em seu blog de fotografia, com o intuito de compartilhar um outro lado da maternidade, que não costuma ser mostrado.

"Tantas pessoas me dizem, 'Oh, eu nunca vi um corpo como esse. Não quero que as pessoas achem as minhas fotos de mau gosto. Quero que elas olhem e digam, 'Oh, essa é uma mulher extremamente humana, ou, essa é uma mulher que tem cicatrizes e linhas com histórias para contar. Meu objetivo é ajudar essas mães a se sentirem dignas de serem chamadas de belas," concluiu Beall.

A mídia está cheia de imagens de corpos femininos. Mas não desses tipos de corpos. Por isso Beall fotografou mais de 70 mães que irão aparecer no livro, A Beautiful Body (Um Belo Corpo, em tradução livre), que deve ser lançado em janeiro de 2014. Ela não usou maquiadores, e não há nenhum tipo de retoque nas fotos.

O projeto A Beautiful body tem um lindo site, onde você poderá ler e ouvir histórias de mulheres que compartilharam informações sobre as mudanças que observaram em seus corpos após se tornarem mães e o pacto de silêncio e vergonha imposto até mesmo pelas pessoas mais próximas.

Que medo é esse?



Para quem acha que permitir que mulheres escolham se querem ou não ter filhos significa a extinção da raça humana, eu sugiro deixar a bíblia de lado e começar a ler os jornais.
 
Orfanatos lotados de crianças abandonadas, abrigos temporários para crianças vítimas de abusos sexuais ou violência doméstica cometida pelos próprios pais, falta de comida e moradia para milhões de pessoas em todo o mundo. Continuar tendo filhos indesejados é a solução? Porque quando desejados, gerados, e, então, bem cuidados, tudo muito bem. Mas e quando trazidos a este mundo à força para serem tratados como, ou pior, do que cachorros?

Será que o caminho não é lutar para garantir que cada pessoa tenha a chance de decidir se quer ou não trazer mais alguém para este mundo e se responsabilizar por esta mesma pessoa por boa parte de sua vida?  

E que medo de extinção mais infundado é esse, quando o nosso planeta nunca teve uma população humana maior do que a atual, em toda a sua história? Sete bilhões de pessoas vivendo em um mundo com cada vez menos recursos é a solução? Morreremos todos de fome, de sede, de doenças causadas pela ganância e pela ignorância, espremidos por falta de espaço, com a ideia fixa de que escolher não ter filhos nos levará à extinção?


Por que não nos permitirmos evoluir a ponto de pensarmos além de páginas defasadas cujo texto arcaico nos previne de olhar a realidade ao nosso redor e de respeitar as escolhas e vontades alheias? Desde quando permitir que quem não quer ser pai ou mãe não o seja, significa influenciar os que desejam esta experiência a abrir mão dela? Liberdade de escolha, minha gente, não é influência. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra bem diferente. Cada um tem o direito de pensar por si, mas, certamente, não pelo outro.


Que medo é esse de que o outro pense e decida por si só; de que as mulheres descubram por si mesmas o que desejam ou não para suas vidas. Que fobia é essa de reconhecer que as mulheres têm direito aos seus próprios corpos? Que hipocrisia é essa de que fazer filhos sem pensar ou desejar é permitido, mas não ter filhos quando não os desejamos não é?
Que ultraje é esse que as mulheres que escolhem não ter filhos causam? A escolha delas não afeta ninguém além delas mesmas e não diz respeito a mais ninguém. Tenha você um filho, se o quer tanto. Este sim é o caminho natural.

Filho deve ser sempre uma escolha e não uma obrigação. Filho é para quem o deseja, quando o deseja. É para quem está interessado na experiência de ser mãe/pai e disposto a fazer um bom trabalho.


Podemos ensinar uma mulher a se tornar uma boa mãe. Mas, em nenhuma circunstância, podemos forçá-la a se tornar mãe. E enquanto não aprendermos a ceder o direito individual de reprodução a cada membro de nossa sociedade, não colheremos os frutos coletivos de dividirmos este planeta com pessoas sãs e satisfeitas com o estilo de vida que escolheram. 

Nicole Rodrigues

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