quarta-feira, 7 de abril de 2010

No início era a mulher

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No início era a mulher.

Nas sociedades antigas, de subsistência, não havia necessidade de força física, e a mulher possuía papel central como reprodutora. Os homens primitivos adoravam as formas avantajadas da Vênus de Willendorf, portadora do segredo da vida.

Ainda hoje podemos encontrar em alguns lugares remotos remanescentes vivos desse tipo de cultura, como nas planícies remotas da África ou da Austrália, por exemplo. Neles, os integrantes do grupo vivem da pequena caça e da coleta de frutos, a mulher é vista como um ser sagrado, pois pode dar à luz. O feminino e o masculino governavam juntos, existia divisão do trabalho mas não desigualdade.

“Nos grupos matricêntricos, as formas de associação entre homens e mulheres não incluíam nem a transmissão do poder nem a da herança, por isso a liberdade em termos sexuais era maior. Por outro lado, quase não existia guerra, pois não havia pressão populacional pela conquista de novos territórios”, nos diz Rose Marie Muraro, no prefácio de livro Malleus Maleficarum.

Mas, com o aumento no número de seres humanos, a competição por alimentos incitou a caça de animais cada vez maiores. Com a competição mais acirrada, as guerras passam a ser mais freqüentes, os guerreiros começam a ser vistos como heróis, iniciando o processo de ruptura com a crescente mitificação dos conflitos.

O homem ainda desconhecia sua função de reprodutor, e acreditava que a mulher ficava grávida dos deuses. Portanto, a elas ainda se atribuía uma áurea de misticismo e divindade, e os homens as invejavam, cultuado-as como a um ídolo.

O curioso é que essa primeira fase, a da “inveja do útero” é a precursora da famosa “inveja do pênis”, que Freud descobriria muito mais tarde. Durante a Idade Média, o útero era visto como uma entidade, um ser dotado de vontades próprias e de uma insaciedade demoníaca, uma teoria que serviu de base para explicar a culpa das mulheres durante os processos de Inquisição.

A inveja do útero deu origem a pelo menos dois rituais universais nas culturas antigas, e algumas ainda em andamento. O primeiro desses fenômenos denomina-se couvade, nele as mulheres começam a trabalhar logo depois do parto e os homens ficam em casa cuidando da prole e recebendo as visitas e os presentes. O outro é o ritual de iniciação masculino, aliás, muito bem detalhado no livro de Jung, O Homem e Seus Símbolos. Como os meninos não sofrem o processo de passagem oficial da infância para a adolescência, a saber, a menstruação, eles sofrem um violento ritual por volta dos doze anos, em que os homens da tribo simbolizam um “parto”. Desse modo, eles estão aptos a deixarem suas vidas de garotos e a tomarem as responsabilidades próprias de homens.

Tudo isso foi criado como uma forma de compensação pela inveja e sentimento de inferioridade que o homem nutria pela mulher.

Para as mulheres, a coisa começa a desandar no momento em que o homem descobre seu papel na reprodução, o que se deu provavelmente durante o Paleolítico. Já inflado por uma idéia de superioridade, obtida pela mitificação da guerra, o homem começa a controlar também a reprodução, e a mulher passa rapidamente de semi-deusa à propriedade privada. Surge o casamento como forma de controle sexual.

Nessa época, o homem começa a dominar também as técnicas de transformação dos metais, produzindo novas armas e também instrumentos para a atividade agrícola. Aparecem as aldeias pastoris citadas na Bíblia. Com a dominação da agricultura as tribos deixaram de ser nômades e puderam se desenvolver cada vez mais, criando laços hierárquicos cada vez mais sólidos, impulsionando o progresso. Surgem cidades, cidades-estados, impérios.

Infelizmente, nesse processo as mulheres são reduzidas ao âmbito doméstico, sua sexualidade é fortemente reprimida e o machismo começa a imperar nas civilizações (...) '.

Autor: Ricardo Borges

Pesquisando sobre a "Inveja do útero" encontrei esse artigo ("Ah... Essas Fêmeas Fatais") interessantíssimo escrito pelo Ricardo Borges, que se intitula um "escoteiro mirim na exploração da alma feminina" (risos). Curioso -- para dizer o mínimo! Ele é o autor de um blog tão curioso quanto ele. Se quiser ler e conferir mais fatos e imagens históricas sobre o assunto:http://floreslivroselua.wordpress.com/page/3/.

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